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Modern Jazz Quartet




Eu estava em Londres e Maria Helena, minha namorada, me deu de presente de aniversário uma entrada para assistir o show do MJO - o Modern Jazz Quartet do Milt Jackson e do John Lewis..



Ela sabia que eu adorava os caras. Fiquei über alegre mas espantado perguntei:




- Por que só um ticket? Você também gosta deles, não vamos juntos?




- Preferi ao invés de comprar dois ingressos comprar um só. Na primeira fila, para você. Mas te espero na saída do teatro para jantarmos juntos. 

Ela estava realmente apaixonada.




Enchi-lhe de beijos e a amei com doçura.

No dia seguinte tentei comprar uma entrada para ela mas já estava tudo esgotado há semanas.



Fui, o teatro ficava na margem do Tames no outro lado do Parliament, depois da Westminster Bridge.

Na primeira fila eu olhava extasiado para aqueles caras. O espetáculo começou, silencio absoluto na platéia. A música fluía como uma bênção, o público que lotava o teatro assistia num silencio religioso, os raros aplausos eram discretíssimos.




Não era um show de jazz era um culto, era uma cerimônia.




Quando o Milt Jackson fazia seus solos no vibrafone eu me lembrava que tinha aprendido a gostar do instrumento por causa dele. Lembrava dos meus primeiros shows de jazz, ainda adolescente, nas tardes de sábado no Copacabana Palace, no Rio.






Sentado bem na frente do John Lewis eu olhava fascinado para aquelas mãos negras flutuando no teclado, contrastando com as teclas do piano.

O show terminou, eu ainda me sentia perto do paraíso, a vontade de chegar perto dos ídolos era grande mas em Londres essa aproximação era impossível.






Semanas depois fui ao Brasil.




Quando cheguei tive uma surpresa enorme. Soube que o MJQ estava em Salvador para uma única apresentação. Um milagre.







No dia do espetáculo lá estava eu de novo. Na primeira fila é claro só que desta vez no Teatro Castro Alves, meio vazio. No fim do show não vacilei e junto com outras pessoas subi no palco para falar com os músicos. Coisa que eles próprios estimularam, coisas das terrinha.






Quando conversava com o John disse que os havia assistido em Londres há algumas semanas. Ele se surpreendeu, riu e brincou:




- Você está nos seguindo pelo mundo?




- Não infelizmente não, é só uma coincidência.




- Mas o que você acha de continuar nos acompanhando?



Ri da gentileza, da brincadeira, dele. Mas hoje acho que devia ter aceitado.








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